domingo, 2 de janeiro de 2011

Desde os tempos da graduação


Uma crítica de uma crítica

Ontem foi a estréia do lendário professor de teoria da literatura I, digo lendário porque ele estava esperando tomar posse para dar aulas e ficamos três semanas a ver navios e sem saber se ele existia de verdade. Pois bem, em meio a uma produtiva discussão sobre o que seria literatura o, ainda jovem, professor soltou a infeliz declaração: "Não li Paulo Coelho e não gostei".

Digo infeliz por causa do julgamento de valor aplicado. Como julgar o que não se conhece ou que não tenha experimentado? Não quero defender Paulo Coelho. Costumo compará-lo aos carros populares. Não é requintado, mas cumpre a função para qual foi determinado. Com o tempo você tem condição de ter um carro melhor e vai trocando até ter o carro que todo mundo sonha.

Sou um consumidor voraz de leitura e Paulo Coelho já foi leitura que eu fiz. Não tenho vergonha de falar que gostei. Claro que não tem os itens que o consagraria como um clássico, mas ele tem um mérito que nenhum clássico conseguiu, fazer com que muitas pessoas descobrissem o gosto pela leitura.

Tenho exemplos aos montes por aqui que começaram com um livro de Paulo Coelho e hoje vejo com Dostoievisk, Tolstoi, Cervantes, Kafka ou outro clássico. Todos, um dia, já leram "A bonequinha Preta", "O sobradinho dos pardais", "O menino do dedo verde", "Os três porquinhos" e etc... Este é um passo inicial para uma caminhada sem fim.

Um dia quase me condenaram para a fogueira por ter falado que o livro "Os trabalhadores do mar" de Vitor Hugo é um saco. Que para mim era um ótimo remédio para dormir.

Existe um modismo dentro das Letras de endeusar os clássicos e sair criticando o que está fora deles. É uma questão de Status. Não dá status dizer que leu literatura de cordel, "causos" do norte de Minas, etc. O brasileiro é modista. Quando Marisa Monte apareceu para o cenário nacional, as pessoas brigavam por ingressos de quase 100 reais porque era sinal de cultura gostar de Marisa Monte, mas ignoravam por completo artistas regionais.

Sou povão e gosto do povão. Não curto pocotó e companhia, mas tenho que aprender fazer uma leitura disso. Acredito que Deus se manifesta nos homens e se eu quiser me aproximar de Deus tenho cada vez mais me aproximar dos homens e não do céu. A literatura, para mim, caminha para o mesmo lado. Quero ler Carolina de Jesus, cordel, Gonzaga Medeiros e fazê-los dialogar com Joyce, Pessoa e Borges. Não critico o que não conheço e não sou melhor que ninguém. O alfabeto do conhecimento começa no "A" e não conheço alguém que já chegou até o "Z" e possa garantir que alguma destas letras é inferior a outra. Todas, ao seu tempo e uso, têm o seu valor.

(escrito em Jun/2003)

Um comentário:

  1. Olá! Gostaria de parabenizar o autor das análises das obras requisitadas pela UFMG. Não encontrei outros sites que se aproximassem da qualidade de suas análises! Muito obrigada; seu trabalho foi muito útil para o meu estudo.

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