sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Romantismo

Romantismo



Willian Turner - 1810

Ticiano - Baco e Ariadne - 1523 / 1524



A Jangada da Medusa - Géricault







Origens e contexto


A ascensão da burguesia européia é um processo que se inicia com o Mercantilismo, nos séculos XVI e XVII, passando pela Revolução Inglesa, de 1688, pela Independência Americana, de 1776, e atingindo o seu o momento culminante na Revolução Francesa, de 1789.
Na França sobretudo, a derrocada da aristocracia permite não apenas a extinção dos privilégios seculares, mas também o fim das barreiras rígidas entre as classes sociais.
Um novo sentido de vida, baseado na livre iniciativa, exalta a audácia, a competência e os méritos pessoais de cada indivíduo, independentemente de seus títulos e seus antepassados. A era do Liberalismo está em seu auge e com ela um conjunto notável de mudanças na história do Ocidente.


A liberdade de expressão


O primeiro efeito favorável da vitória burguesa para a literatura reside no artigo onze da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão:

"A livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo cidadão pode portanto falar, escrever, imprimir livremente." Como afirma um historiador, "cada francês é agora um escritor em potencial, todas as Bastilhas acadêmicas caem por terra e uma aventura da palavra escrita está acontecendo."







Contexto histórico: 

  • Ascensão da burguesia
  • Implantação definitiva do capitalismo 
  • Liberalismo econômico, jurídico, filosófico
  • Surgimento de um novo público leitor 
  • A arte passa a valer como mercadoria 

Surgimento: Fins do século XVIII. Já o apogeu romântico ocorre na 1ªI metade do século XIX






1) Individualismo e subjetivismo: 
É a dupla face do EU romântico. A do EU arrogante, napoleônico, audacioso. E a do EU que se fecha sobre si mesmo, que escava a sua própria interioridade.






2) Sentimentalismo: 

Celebração do "grande amor", da paixão desmedida, mas também da tristeza, da angústia, do "mal do século" (o tédio).





3) Culto à natureza: 

Raro o poema romântico que não exalte ou, pelo menos, faça referência ao mundo natural. Também as metáforas preferidas ligam-se sempre a fenômenos da natureza.

4) Sonho, fantasia, tendência à idealização. 




5) Escapismo:

Tendências suicidas, culto da morte, criação de mundos imaginários, entrega ao álcool e à orgias.


6) Liberdade artística: 

Fim do mecenatismo, ao vender sua obra no mercado o artista se libera das exigências de seu protetor. Desobediência às regras clássicas. Surge o drama teatral e o romance se impõe como o gênero dos novos tempos.








Amar!
Florbela Espanca
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
... Amar!  Amar!  E não amar ninguém!
 
Recordar?  Esquecer?  Indiferente!...
Prender ou desprender?  É mal?  É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


1ª Geração: Poesia indianista-nacionalista

  • Lirismo, sentimentalismo
  • Religiosidade
  • Ufanismo  
    • Exaltação da natureza-pátria
    • Exaltação do elemento nativo 
  • Idealização da figura feminina 
  • Idealização amorosa (neoplatonismo) 
  • Evasão
    • No tempo 
    • No espaço 
  • Musicalidade e simplicidade na linguagem




Canção do exílio
     (Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores.

Em  cismar, sozinho, à noite, 
Mais prazer eu encontro lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores, 
Que tais não encontro eu cá; 
Em cismar –sozinho, à noite– 
Mais prazer eu encontro lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra, 
Sem que eu volte para lá; 
Sem que disfrute os primores 
Que não encontro por cá; 
Sem qu'inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o Sabiá.


Intertextualidade

A Intertextualidade pode ser definida como um diálogo entre dois textos.




  • Paráfrase
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a idéia do texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com outras palavras o que já foi dito.

  • Paródia
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros textos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto de interesse para os estudiosos da língua e das artes.






2ª Geração: Poesia ultrarromântica, byroniana, do “mal-do-século”

  • Intenso pessimismo; irreverência; ironia 
  • Egocentrismo exacerbado 
  • Gosto pela solidão, pelo sofrimento 
  • Satanismo 
  • Obsessão pela ideia de morte 
  • Evasão 
    • No sonho 
    • Na fantasia, na imaginação 
    • Na loucura 
  • Neoplatonismo x Erotismo 
  • Concepção dualística da figura feminina 
    • Mulher divinizada 
    • Mulher sensual 
  • Principais poetas: Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Junqueira Freire, Casimiro de Abreu


Solidão

Nas nuvens cor de cinza do horizonte
A lua amarelada a face embuça;
Parece que tem frio, e no seu leito
Deitou, para dormir, a carapuça.

Ergueu-se, vem da noite a vagabunda
Sem xale, sem camisa e sem mantilha,
Vem nua e bela procurar amantes;
É doida por amor da noite a filha.

As nuvens são uns frades de joelhos,
Rezam adormecendo no oratório;
Todos têm o capuz e bons narizes
E parecem sonhar o refeitório.

As árvores prateiam-se na praia,
Qual de uma fada os mágicos retiros...
Ó lua, as doces brisas que sussurram
Coam dos teus lábios como suspiros!

Falando ao coração que nota aérea
Deste céu, destas se desata?
Canta assim algum gênio adormecido
De ondas mortas no lençol de prata?

Minh'alma tenebrosa se entristece.
É muda como sala mortuária...
Deito-me só e triste, sem ter fome
Vendo na mesa a ceia solitária.

Ó lua, ó lua bela dos amores,
Se tu és moça e tens um peito amigo,
Não me deixes assim dormir solteiro
À meia-noite vem cear comigo!



      Namoro a Cavalo



      Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
      Que rege a minha vida malfadada
      Pôs lá no fim da rua do Catete
      A minha Dulcinéia namorada.

      Alugo (três mil réis) por uma tarde
      Um cavalo de trote (que esparrela!)
      Só para erguer meus olhos suspirando
      À minha namorada na janela...

      Todo o meu ordenado vai-se em flores
      E em lindas folhas de papel bordado,
      Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
      Algum verso bonito... mas furtado.


3ª Geração: Poesia social, condoreira ou hugoana

  • Engajamento literário 
  • Senso de reformismo 
  • Apelo à natureza (uso da apóstrofe) 
  • Linguagem grandiloquente, declamatória 
  • Erotismo 
    • Concepção material do amor e da mulher 
  • Transição para o Parnasianismo
  • Principais autores: Castro Alves, Sousândrade


Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:  
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!


E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente  
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,  
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,  
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!


No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
           Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
           E ri-se Satanás!...




O Romance Urbano (ou “de costumes”) retratos do “modus vivendi” da burguesia carioca do século XIX

  • Sentimentalismo 
  • Impasse ou conflito amoroso 
  • Predominância do final feliz 
  • Oposição aos valores sociais (crítica social velada) 
  • Peripécia narrativa 
  • Flash-back narrativo 
  • Idealização 
    • do amor (sentimento sublime, redentor) 
    • do herói 
    • da mulher 
    • do espaço 
  • Predomínio de personagens planas 
  • Linguagem metafórica, “colorida”


O Romance Indianista (as “lendas indígenas”) – resgate de nossas raízes étnicas

  • Profundo lirismo 
  • Exaltação da natureza-pátria 
  • Valorização do elemento nativo 
  • Idealização 
    • do amor 
    • do herói 
    • do espaço 
  • Linguagem metafórica 
  • Uso do vocabulário tupi-guarani


O Romance Regionalista – painel das diferentes realidades regionais brasileiras

  • Descrição dos costumes, tradições, valores e linguagens regionais 
  • Crítica social: o contraste mundo rural (primitivo) X mundo urbano (civilizado) 
  • Impasse amoroso (crítica aos valores sociais) 
  • Predominância do desfecho trágico 
  • Ênfase nos regionalismos 
  • Linguagem sob duplo enfoque 
    • Linguagem do narrador 
    • Linguagem dos personagens regionais

O Romance de Urbano de Transição – retrato da população suburbana do Rio de Janeiro do final do século XIX (perfeita “crônica de costumes“)


  • Banalização do sentimento amoroso 
  • Personagens não-idealizadas 
  • Presença do anti-herói 
  • Sátira social 
  • Comicidade 
  • Foco nos acontecimentos 
  • Introdução do juízo de valor

Ex. Memória de um sargento de Milícia, de Manuel Antônio de Almeida









2 comentários:

  1. Essa aula está sendo fantástica!Essa semana vai ter mais êba!!!
    Adriano, você é um ótimo professor!!!

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  2. Puxa, enfim o blog que procurava, estou te seguindo. Adoro o tema que você traz.

    Abraços.

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