sábado, 25 de novembro de 2017

O filho de Machado de Assis



 


A obra de Luiz Vilela é uma novela. É importante frisar este gênero textual narrativo, na tradição da literatura brasileira, tem extensão média, entre o conto e o romance.

Por ser uma obra curta, cada detalhe da narrativa é importante, pois não apresenta um desenvolvimento maior do enredo. O não-dito, as entre-linhas são importantes.

O livro se desenvolve quase todo no diálogo entre Telêmaco, que é o narrador, e o professor aposentado Simão. Não existe numeração de partes ou capítulos, mas se apresenta um leve divisão de parte, pois sempre se começa escrever cada uma sempre na página à esquerda.

O narrador, como já informado é personagem. Temos o predomínio do discurso direto. O tempo é cronológico e a linearidade só é quebrada pelas inúmeras falas do professor contando acontecimentos passados.

Os nomes dos personagens foram tirados da literatura. Telêmaco remete ao filho de Ulisses na Odisseia, de Homero. Na epopeia, o personagem saiu de Ítaca à procura do pai, que não voltara da Guerra de Troia. Já Simão é o primeiro nome do protagonista de O alienista, de Machado de Assis. Investigando a loucura, o cientista Simão Bacamarte interna todos os habitantes da vila de Itaguaí, depois os solta, considerando que ele é o único louco do lugar. É importante lembrar que o próprio professor da novela tem sua sanidade mental comprometida. O espaço é o Rio de Janeiro e quase em toda história centrado na casa do professor no bairro de Santa Tereza.

A história é um agradável diálogo entre mestre e discípulo nos caminhos das Letras. (Machado de Assis e Mário de Alencar, do livro de Silviano Santiago?) Simão, o professor aposentado, velho, e Telêmaco, o graduado em Letras, jovem.

A história começa com a ligação do professor para Mac(apelido de Telêmaco) dizendo que precisava muito falar com ele. Mac preparava para ir para praia com a namorada que não gostou.

O professor morava em um sobradinho. Nunca se casara. Duas vezes por semana, as terças e aos sábados, Uma empregada, Maria, ia até lá para fazer a faxina. (Machado tinha uma das empregadas que se chamava Jovita e que ele acrescento MARIA ao nome dela. em Machado, de Silviano Santiago).

O professor estava agitado e disse o final de Memórias Póstumas de Brás Cubas
 (Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”era mentira. Mac pensa que o professor ficou louco. O professor o manda sentar e o argui porque não o atendeu. Mac disse que estava desligado, então o professor pergunta parra o que então que serve isso? Depois, mais calmo o professor se senta.

A descoberta do professor feita a cerca de um mês, que a antologia poética Crisálidas não seria a estreia literária de Machado de Assis.Investigando jornais da segunda metade dos anos 1800, o docente da Universidade Federal de São Carlos topou com anúncios que antecipavam o lançamento de Livro dos vinte anos, uma “coleção de versos” de um “moço de talento viçoso e original”, que “enceta apenas a carreira das letras”. Sem precedente em biografias do escritor, o fato gerou discussões no meio literário.



Ocorre que agora um fato ainda mais escandaloso, relacionado ao passado do bruxo do Cosme Velho, acaba de vir à luz. A descoberta também foi feita por um professor, e, da mesma forma, ao investigar papéis antigos numa pesquisa de biblioteca. De repente, estava ali, numa passagem. A notícia das notícias: Machado de Assis tivera um filho!

“Um filho? Machado?”“Sim, senhor: Machado de Assis.”“Mesmo, professor?”“Mesmo; mesmíssimo.”“Não é aquela história dele com a mulher de José de Alencar…”“Não, não; aquilo é fofoca, isso aqui é real, é fato.”“Caraca!…”“É espantoso, não é?”“Espantosíssimo!”

A revelação é o mote da divertida novela O filho de Machado de Assis, do mineiro Luiz Vilela.

“O mundo acadêmico: gente que escreveu livros inteiros explicando a obra do Bruxo pela ausência de filhos… E agora, com que cara eles vão ficar?”

A revelação leva, então, a uma longa conversa em que se discute a vida de Machado, seus relacionamentos, as possíveis puladas de cerca e, até mesmo, sua sexualidade.

As hipóteses vão se acumulando sem empreender resposta, muito porque o professor, confiando ao mesmo tempo que desconfiando do aluno, não revela a origem da prova, em qual “papelada antiga” encontra-se a certeza da paternidade.

“Me desculpe, meu caro: apesar de toda a minha confiança em você, confiança que ainda há pouco acabei de reiterar, eu não vou dar os detalhes do que eu quero lhe contar. Para lembrar outra expressão popular, eu vou contar o milagre; o santo fica para depois…”

O interesse sórdido pela vida alheia acomodado à patrulha do politicamente correto; a sociedade que se refestela em polêmicas, sem se ater à veracidade do fato; as intermináveis discussões rasas que não levam a lugar algum. Tudo temperado com uma ironia refinada e um humor zombeteiro.

O professor chega reclamar com Mac sobre um barulho forte de trem, mas isso estava dentro da cabeça e que nada podia extrair, é um tormento contínuo, enlouquecedor: Fero-fers-ferre.

Discutem sobre o filho de Machado, um menino, antes do casamento com Carolina e acha que foi por causa dela que o filho foi escondido.

Passam imagina como seria o anúncio da descoberta do filho do Machado de Assis e deixaria a pesquisa de encontrar a mãe e a criança ficaria para as novas gerações. Mas o professor se mostra pessimista: "E vou mais longe...se é que haverá no futuro alguém de qualquer idade, interessado em literatura..."

O ex-aluno Mac fica toda hora corrigindo o mestre professor em expressões consideradas agora agressivas, ele representa o politicamente correto.

Aí o professor apresenta uma piadinha sobre um governador mineiro que foi visitar o museu da Inconfidência e perguntou a um guarda de quem era aquele esqueleto, no que o outro respondeu que era de Tiradentes. Depois apontou para o esqueleto de uma criança e perguntou de quem era e o guarda respondeu que era do Tiradentes quando criança.

Com professor tinha mania de estralar o dedo (tlec), Mac começou imaginar uma competição disso e de inúmeras outras coisas inúteis.

O professor conta para Mac que no dia que fez a descoberta, depois que voltou até lá para confirmar, com a desculpa de buscar o guarda-chuva, apanhou um táxi cujo o motorista era a cara do Machado de Assis e começou a fazer contas para estabelecer o parentesco. Depois ele perguntou ao motorista se ele conhecia Machado de Assis e para sua surpresa o mulato respondeu que sim, ainda completou que transportava o Doutor Machado toda semana.

O professor inda relatando sobre o dia da descoberta, relata que chegou para a moça da biblioteca que Machado de Assis teve um filho. Para sua surpresa a moça derramou sobre o professor um monte de história do senso comum sobre o escritor, que era solteirão e mulherengo, que teve uma filha etc... O professor ouviu por educação, tentando retificar inutilmente algumas informações dela.

Depois, com a aparição da empregada Maria no escritório para servir o chá, o assunto volta-se agora sobre as histórias do senso comum u míticas sobre Tiradentes, a maçonaria que  escondeu, não morreu enforcado etc. Sobrou até para Cristo.

Mais tarde o professor retoma com tristeza o fato de ter revelado a descoberta para a moça da biblioteca(Bissa), ela poderia contar para outras pessoas.

O professor também mostra preocupação pelo fato de ter um feriado e a biblioteca ficar fechada por quatro dias e se dê um curto-circuito e tudo se consome em fogo? Embora Mac tente fazer o professor ficar calmo em relação a isso e também ter uma deixa para ir embora, o professor continua chamando o final de semana de terror e disse até que poderia morrer e sua descoberta morreria como ele.

Começam a falar do irmão do professor, Judete Jordão, o qual não tinha a simpatia do mestre. Fala do pai que afirmava que o caminhão era melhor que muita gente e chegava até a beijá-lo.

Finalmente Mac vai embora, iria viajar para Nova Iorque. Sai tranquilo, afinal o professor havia se acalmado e com convite de voltar para comemorar a descoberta com um franguinho com quiabo.

Mac viaja para os EUA e fica por lá dez dias. Mas teve na viagem um sonho com o professor na neve só de calça e camisa, embora  o chamasse, o mestre não respondia, mas faz um gesto de negação e o sonho acaba.

De volta ao Brasil tenta conversar com o professor pelo telefone, mas ninguém atende suas diversas ligações. Imagina as conversas, como começaria a falar. Resolve ir até lá e encontrou a casa fechada, mas uma vizinha o informa que o professor morreu, provavelmente de coração, morreu sozinho sobre a mesa dele.

Contou que o irmão do professor foi até a casa e queimou toda papelada e outras coisas no quintal. Mac então pensou na cadernetinha vermelha onde estava a descoberta sobre o filho de Machado de Assis que também foi destruída. Depois veio um caminhão e levou os móveis. A vizinha ainda disse que o irmão do professor era uma pessoa grosseira. Mac pensou o apelido que o professor deu ao irmão: cão hidrófobo. A vizinha ainda disse que o professor foi cremado.

Mac ainda olhou para o sobrado, lembrou-se de um monte de coisas e se despediu entre lágrimas: "Adeus, velho maluco".

No sábado, numa manhã de sol, praia cheia, Mac vira-se para a namorada e disse: "Bem, o Machado de Assis teve um filho".
Ela: "Quem?", "O Machado de Assis" e ela respondeu "E daí?. Mac: Daí? Daí nada".




Para refletir
Professor:
“Não se iluda, meu caro, não se iluda: cultura não confere caráter a ninguém, da mesma forma que batina e hábito a ninguém confere santidade.”
“A cultura às vezes até refina e amplia o que há de pior numa pessoa.”

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